sábado, 15 de maio de 2010

Infelizmente, é mais barato andar de carro

Há muito que o termo “sustentabilidade” deixou de ser somente um jargão acadêmico e passou a guiar as ações governamentais ao redor do mundo. Não só no Brasil, inúmeros esforços se dão no sentido de aumentar a eficiência energética dos processos industriais, diminuir o consumo dos automóveis, bem como reduzir a utilização de combustíveis fósseis optando por fontes mais limpas de energia. Estas ações têm a intenção de mitigar a atuação dos gases do efeito estufa na atmosfera, causadores do aquecimento global, e melhorar a qualidade do ar nas cidades.


No entanto, estes esforços só se mostram eficazes havendo uma ampla participação da população. Para a construção de uma sociedade sustentável, é fundamental, por exemplo, economizar energia elétrica e água, assim como diminuir o consumismo. Não menos importante é reduzir o uso dos automóveis. Segundo o Balanço Energético Nacional de 2009 – estudo feito pela Empresa de Pesquisa Energética, EPE – os veículos a gasolina e álcool foram responsáveis por mais de 12% da energia consumida no país no ano de 2008. Além deste fator, os veículos contribuem de forma direta e indireta na poluição atmosférica.


Em Florianópolis, o prefeito Dário Berger parece trabalhar contra uma vida urbana melhor. Somado ao problema ambiental, o elevado número de automóveis na cidade vem trazendo um grande problema de mobilidade para a população, que presencia diariamente os engarrafamentos das avenidas. Como se já não fosse demais, o preço da passagem aumenta indiscriminadamente, sem levar em conta os fatores sociais e ambientais, ou seja, priorizando somente o ganho das empresas do transporte.


Como forma de ilustrar o tipo de política viária de Florianópolis foi criado o gráfico abaixo. Ele mostra o custo em função da distância percorrida, associado a uma determinada modalidade de transporte. Na vertical temos o custo por pessoa, em reais, e na horizontal a distância percorrida, em quilômetros. As modalidades de transporte são: o transporte público, o carro com apenas um passageiro e o carro com dois passageiros. Para o cálculo, assume-se que a pessoa já possua um carro a gasolina, com um consumo médio de 10km/l, que o preço da gasolina seja de R$2,50 por litro e que o preço da manutenção do veículo seja de R$0,10 por quilômetro.


Para os casos do carro com um ou dois passageiros, o custo por pessoa aumenta conforme a distância percorrida. Para o transporte público, como a tarifa assumida é a tarifa única de R$2,95, o custo por pessoa permanece constante, ou seja, pode-se andar livremente, independente da distância, pagando apenas uma tarifa.


Através do gráfico, nota-se que para uma pessoa dirigindo um veículo sozinha, não é vantajoso utilizar o transporte público quando se deseja percorrer uma distância menor que 8km, ou seja, para se deslocar da UFSC ao Centro, é mais barato ir sozinho de carro do que ir de ônibus. Ainda, para um trajeto intermediário, como da Lagoa da Conceição ao Centro, continua sendo mais vantajoso ir num automóvel com duas pessoas do que utilizar o ônibus.



Não há nenhum benefício para se usar nosso Transporte Coletivo. As tarifas são abusivas, os ônibus não são freqüentes e, principalmente, o sistema não é confiável, sujeito a constantes mudanças de horários e linhas. Assim, o uso do automóvel é incentivado como política pública, agravando o problema ambiental e os congestionamentos na cidade. Só anda de ônibus quem não pode escolher. Quem tem carro, por mais que se preocupe com os problemas ambientais, escolhe não andar de ônibus devido ao sistema inconveniente e caro. O transporte público precisa oferecer benefícios para que essa escolha seja diferente.


Inicialmente, é necessário diminuir drasticamente o preço da passagem para que Florianópolis volte a se mover. Outras soluções podem ser implementadas juntamente com a diminuição da tarifa única, como por exemplo, a tarifação da passagem feita por zonas, incentivando o uso do ônibus para curtas distâncias e assim diminuindo o tráfego no Centro e em outros “gargalos” da cidade. Em relação aos engarrafamentos, existe a possibilidade de se utilizar o famoso “corredor de ônibus”, aprovado em diversas cidades do país. Priorizando-se o transporte coletivo, a cidade economiza em obras públicas necessárias para suportar o crescente número de veículos, além de manter a qualidade de vida, colaborando com os esforços mundiais para diminuição do efeito estufa.


A afirmação simplista do prefeito Dário Berger reflete a sua péssima administração: “Não tem como fazer mágica. Infelizmente alguém precisa pagar essa conta. Sempre que houver reajuste de salário, haverá aumento das passagens”. Ora, nada mais absurdo! As ações da prefeitura junto às concessionárias do serviço de transporte público devem ser para que haja uma melhoria na qualidade do transporte e para que o preço da passagem seja acessível à população, e não em defesa da incapacidade dessas empresas, que não conseguem – ou não tentam – diminuir os custos. A otimização do sistema de transporte, bem como a redução de custo, deve ser exigência da prefeitura e problema das empresas. A partir do momento em que estas não forem capazes de atender às exigências, devem perder a concessão do serviço e uma nova licitação deve ser realizada. Não há mágica!


Pedro Magalhães

Estudante do curso de Engenharia Mecânica – UFSC

Florianópolis, 13 de Maio de 2010.

Um comentário:

Anônimo disse...

nao saiu o grafico