terça-feira, 6 de abril de 2010

Sobre a TV (ainda hoje)

Possibilidades reais:
- Atender às exigências do público ao mesmo tempo que gera demandas;
- consequentemente reproduz a ordem vigente ao mesmo tempo que reforça o padrão.

Análise decorrente:
- Existem várias formas de descanso. Uma delas prevê a inação, a recepção passiva, dá a sensação de participação na contemporaneidade e de liberdade pela instanteneidade da informação (como se dissesse: está acontecendo agora, nisso posso agir; mas esse raciocínio entra em grave choque com sua principal caraterística, a passividade), continuando, prevê o aprendizado moral por exemplos (como novelas e seriados; entenda-se moral no sentido filosófico de comportamento social correto do indivíduo; tendo por correto o que o tal exemplo disser que é correto), etc;
- Como a internet, ou qualquer outra ferramenta informacional, a TV contém em si um potencial emancipatório gigantesco. Por razões óbvias, esse potencial é reduzido ao mínimo tolerável numa sociedade democrática (seria o caso, pelas tais óbvias razões, de ampliar a generalização para qualquer tipo de sociedade de castas).
- Diferente da internet, a TV "instrui"/diverte/realxa milhares de pessoas ao mesmo tempo com a mesma mensagem. Modo esse que vai ao encontro da pedagogia industrial vigente nas Escolas e que busca educar um trabalhador padrão, seja para a indústria, para a universidade, para a prestação de serviços.
- O tempo que se passa aí pode ser enorme em relação ao tempo livre dadas as obrigações que uma pessoa tem (trabalho/escola, sono/necessidades vitais). Podendo resultar numa simples equação: tempo livre = inação/passividade/relaxamento acrítico/aprendizagem moral padrão.
- O imediatismo do audiovisual televisivo assegura o reinado da preguiça?

Se alguém não sabe que existe outras formas de usar o tempo livre, de descansar, de se divertir, se ela está bem acomodada e acostumada com essa única alternativa (ou com essa boa e fácil alternativa), a aceitação é simples e indolor.

Soa um raciocínio simplório até, mas quando se observa a quantidade de residências com TV (94% dos brasileiros), a demanda por TV paga (8%) e a enchurrada de promoções de aparelhos com tecnologia digital (a preços simplesmente absurdos!!!), aí se vê até onde vai o poder daquelas duas possibilidades citadas acima.

Para concluir a postagem, já que não me canso de reclamar do que é a TV hoje (tenho clara idéia do que ela pode ser), vou transcrever o final da seção A média dos gostos e a modelação das exigências do livro de Umberto Eco, A&I (lembrando que foi publicado em 1965):

"Talvez a TV nos esteja levando unicamente para uma nova civilização da visão, como a que viveram os homens da Idade Média diante dos portais das catedrais. Talvez, como foi sugerido, passemos a impregnar gradativamente os novos estímulos visuais de funções simbólicas, e nos encaminhemos para a estabilização de uma linguagem ideográfica.

Mas a linguagem da imagem sempre foi o intrumento de sociedades paternalistas, que subtraíam aos seus dirigidos o privilégio de um corpo-a-corpo lúcido com o significado comunicado, livre da presença sugestiva de um "ícone" concreto, cômodo e persuasivo. E por trás de toda direção da linguagem por imagens, sempre esteve uma elite de estrategos da cultura, educados pelo símbolo escrito e pela noção abstrata [grifo meu]. Uma civilização democrática só se salvará se fizer da linguagem da imagem uma provocação à reflexão crítica, não um convite à hipnose."

Nenhum comentário: