........Entre o animal e eu, de assalto, o sutiã da dona Alzira me toma a vista. Um baita aparato, com restos de renda nas bordas e talvez uma mancha da última amamentação. Minha nossa, dona Alzira, deve fazer uns 35 anos...
........Saio dali, pois ela começa a se vestir na minha mente. Aparece de seu amarelado banheiro de ladrilhos azuis com os ombros respingados. Larga a toalha e começa o serviço.
........Coloco uma música, vou até a cozinha, como uma maçã, lavo a louça, socorro. Tomara que o cachorrinho não entre na história, tomara, tomara, tomara...
........- Bééé! - toca a campainha.
........Atravesso o olho mágico e oh céus, dona Alzira, o que tais fazendo aí?
........- Olá, mocinho. Esta sua cueca caiu no meu dunguinha. E já vou lhe avisando que da próxima vez é você quem irá buscar suas intimidades no meu apartamento.
........Como ela sabe que essa cueca é minha?
........- Pode deixar, dona Alzira.
........Sutiã velho, tetas escorridas, cracas de amamentação. Não seria do cara do 401? O dunguinha saindo do banheiro azul com rendas na cueca amarelada.
........Procuro pelas paredes alguma fotografia que me salve das visões e ... encontro Bresson. Ah, a arte de fotografar. Corro até ele.
........Mas que engano. Bresson e seu humor decisivo. A foto mostra uma bicicleta apoiada num outdoor com dois peitos gigantescos.
........E de novo a torrente: sutiã, anões, amarelo, bicicleta, Bresson, França, sim! A amiga que me deu a foto. Acabo lembrando de sua viagem por Paris, seu sutiã de rendas azuis, suas tetas sardentinhas.
........Aliviado, pude, então, sentar e escrever essa história.
27/05/2009
8 comentários:
tinha esquecido de perguntar. o que é dunguinha?? de onde surgiu??
Um dos sete anões se chama Dunga.
Ahmmmm! Tinha passado batido pelos anões! Bota maiúscula no nome. E quem sabe, chama atenção pros tais anões, de alguma forma, antes de aparecer o dunguinha. Sei lá, não sei se é deslize meu ou do texto, hehe.
desculpa me meter na história,mas acho que é deslize seu dona Dani, o dunguinha estava claro para mim desde o princípio. A cena do cachorro entre os anões me chamou muito atenção.
e parabens seu Gil, os seus contos me prendem de uma forma que só os grandes mestres conseguem atingir. Sempre fico me perguntando até onde vai a realidade e começa o seu imaginário.
Faço a mesma pergunta do Gabriel, e tenho medo das respostas que imagino toda vez. Gostei do conto: deixa a cargo do leitor fazer as relações entre as palavras que surgem, e o sorriso nos lábios de quem lê sempre denuncia alguma coisa. Ainda bem que estou do lado de cá da tela, haha. A respeito do dunguinha, peço que o deixem de fora de suas intimidades.
Hahaha, eu normalmente sei o limite da imaginação e do que realmente acontece, no textos do Gil. Isso é bom e é ruim. Bom porque é bom acompanhar bastidores de texto e ruim porque a leitura fica um porquinho presa ao que se sabe. Mas acho que, pra mim que tbm escrevo e gosto dos bastidores de tudo, vale sacrificar o não-saber pra acompanhar o processo de criação.
;D
mandei o endereço do blog pro bruno sem saber que tinha coisa nova. a resposta dele diz tudo: o gil é foda, ta na cara que é dele mesmo.
vou te dizer que nesse texto terminei a leitura aliviado. porra, entre o sutiã da dona alzira, o dunga e o bresson, a verdade é que eu só tentava esquecer do que me assombrou durante essa semana. aquele mamiloverruga foi foda.
Não sou muito de criticar textos alheios, até pq eu não levo essa história de blog muito a sério, mas abro uma exceção aqui. Gosto do texto e da idéia, mas não sei, tem algo que falta ou fica meio confuso. Não sei o que é. Na real, parece que vc fez o resumo de uma história bem interessante, sabe?! :/
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