terça-feira, 14 de abril de 2009

Só se for em Tianguá

Estive no Ceará em janeiro deste ano fazendo vistoria de umas torres. Entre uma e outra, acabava viajando bastante. E foi na ida para Sobral que o torrerista Lucas pegou carona comigo. Ele estava voltando para casa após um mês de trabalho.

 - Não agüento mais esse calor. Tenho uma casinha na serra, lá pras bandas de Tianguá. E faz frio, sabia? No inverno, pela manhã, às vezes tem até neve.

 Não entendi muito bem aquilo. Estávamos cruzando o sertão, de noite, com as janelas bem abertas, o suor escorrendo pelas meias e nevava no nordeste brasileiro?

- Pois temos que dormir até de manta!

Na manhã seguinte, subi a serra. E, mal chegando, já tive que ir para o sul: estava começando o período de chuvas. A previsão era de três dias sem poder trabalhar.

Descobri um ônibus que partiria para Crateús às 5 da manhã. Não tinha muita certeza de que haveria o tal ônibus, mas quando saí da pousada no meio da noite percebi que não podia ter certeza de coisa alguma.

Fui pego pela brisa gelada de bermudas e camiseta. Caminhei abraçado à mochila até a rua principal e me agachei num canto para esperar. Os bancos da praça estavam molhados, mas eu só sabia disso pois havia atravessado a rua e ido até lá. A cerração era muito intensa, podendo-se ver, com a luz amarela dos postes, o seu escorrer turbulento entre as árvores e as casas.

O céu foi clareando aos poucos e, como numa madrugada de mortos-vivos, aquele véu sumia pelos bueiros e esquinas.

Depois de meia hora batendo os dentes, o ônibus surgiu pela CE-187. A cidade ia reaparecendo.

Foram nove horas de viagem até o sul do estado, onde, pelo caminho, só se via a caatinga e a seca.

Neve realmente era demais. Ele deve ter falado névoa.



14 de abril de 2009