- Não agüento mais esse calor. Tenho uma casinha na serra, lá pras bandas de Tianguá. E faz frio, sabia? No inverno, pela manhã, às vezes tem até neve.
Não entendi muito bem aquilo. Estávamos cruzando o sertão, de noite, com as janelas bem abertas, o suor escorrendo pelas meias e nevava no nordeste brasileiro?
- Pois temos que dormir até de manta!
Na manhã seguinte, subi a serra. E, mal chegando, já tive que ir para o sul: estava começando o período de chuvas. A previsão era de três dias sem poder trabalhar.
Descobri um ônibus que partiria para Crateús às 5 da manhã. Não tinha muita certeza de que haveria o tal ônibus, mas quando saí da pousada no meio da noite percebi que não podia ter certeza de coisa alguma.
Fui pego pela brisa gelada de bermudas e camiseta. Caminhei abraçado à mochila até a rua principal e me agachei num canto para esperar. Os bancos da praça estavam molhados, mas eu só sabia disso pois havia atravessado a rua e ido até lá. A cerração era muito intensa, podendo-se ver, com a luz amarela dos postes, o seu escorrer turbulento entre as árvores e as casas.
O céu foi clareando aos poucos e, como numa madrugada de mortos-vivos, aquele véu sumia pelos bueiros e esquinas.
Depois de meia hora batendo os dentes, o ônibus surgiu pela CE-187. A cidade ia reaparecendo.
Foram nove horas de viagem até o sul do estado, onde, pelo caminho, só se via a caatinga e a seca.
Neve realmente era demais. Ele deve ter falado névoa.
14 de abril de 2009
Um comentário:
Boa!
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