quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Como se faz política

.....Posso dizer que há três formas de fazer política:

P1- Esperar, dormir e acordar de saco cheio no dia da eleição;
P2- Cursar Política numa universidade, ler livros sobre o tema, estudar essa parte da Filosofia;
P3- Levantar cedo e montar uma barricada numa avenida principal contra a implementação da Alca / ou / levantar cedo e exigir de alguém a supressão de uma necessidade.

.....Todos sabem que com uma combinação de P2 e P3 se faz uma boa Política, aquela com P maiúsculo. Ou seja, há um pensamento/planejamento que permite ver tanto o todo/o coletivo/a sociedade quanto as especificidades das situações ou as relações entre as coisas, e há a ação individual que buscará realizar o que foi pensado. (É claro que ações individuais podem se combinar tornando-se ações coletivas. O mesmo acontece com o planejamento. Mas, a priori, o ato volitivo é individual.)

.....Vamos agora acrescentar um pouco de contexto. Modelo político: democracia representativa. Essa democracia, dentre as várias que foram pensadas e aplicadas, resulta um tipo distante, seja no espaço, seja no tempo. Há, pelo menos, dois aspectos a serem lembrados sobre a Democracia do Esquecimento: o distanciamento do elegido/eleito (?) e a dispensa da ação por parte de quem elege. Isso desemboca num descaso político e consequentemente em perda da memória eleitoral.
.....Já virou até tema de pesquisa da neurociência! Vejamos os detalhes aqui.

.....Vou levar esse assunto para o voto facultativo. Acontece que 59% da população prefere o voto facultativo (Sensus). (A história do voto facultativo é velha.) E, segundo pesquisa do Datafolha, se não fôssemos mais obrigados a votar, 49% dos eleitores não compareceriam às urnas.
.....Ao contrário do que ouvi um politicólogo falar, isso não seria uma calamidade. Seria realidade! O voto obrigatório só mascara a falta de vontade de fazer Política que está em boa parte do mundo democrático. E o que é pior: força o eleitor a praticar o tipo P1, diluindo ações do tipo P2 e P3.
.....Será que a Política seria dominada por tonalidades entre P2 e P3 caso fôssemos demócratas facúlticos? Caso isso acontecesse, a organização política mudaria? a Máquina administrativa mudaria seu funcionamento? os candidatos seriam melhores? (a cada pergunta que escrevo, sinto que a merda continuaria escorrendo da privada entupida.)

Escolha seu presidente (eleições de 2006).

Tendo teorizado um pouquinho sobre Política, vamos dar um passeio na Politicagem. E para isso, nada melhor que um exemplo real.
.....Outro dia estava passando perto da Ufsc quando vi bandeiras da candidata Ângela Albino, do PCdoB. Quem já participou de política de partidos sabia o que era o PCdoB, até ontem. (Várias coisas nós sabíamos. Hoje, só o google.) Claro que quando perguntei para alguém que segurava uma bandeira, já sabia a resposta: "Não sou do partido. Tão me pagando uns trocados." Deve ser proposta de geração de emprego!
.....Política de partido significava crença e ação conjunta. Hoje virou coligação e mercado/marketing.

.....Penso como seria uma Política sem propagandas, onde precisaríamos conhecer o candidato pelo que fez e pelo que quer fazer, pesquisando, necessitando ação da pessoa. Aí o tipo P1 sumiria. Talvez ajudasse, mas também não resolveria. (Poderia de qualquer forma resolver isso?)
.....Nada de propagandas, pesquisa sobre os candidatos, voto facultativo = voto nulo. Não precisaríamos mais escolher o menos pior. Mas o sabemos sobre anulação do escrutínio? O TSE diz que só resulta em vexame para quem tiver mais votos. Mas encontrei naquele relatório ali acima, do Senado, que em 1998 um total de 40% da população estava somada em brancos, nulos e abstenções. Bastante, não?!

.....Mas e quem é Ângela Albino? (Deixo claro que até sou a favor de sua futura política. É provável que seríamos a favor da maioria dos candidatos graças aos seus planos, mas não ao seu passado). O site diz coisas como: coragem e capacidade para mediar conflitos... Um tanto budista, talvez.
.....Só que para mim, o que ficou foi isto:


É assim que se faz Política? Onde está o que ela fez em 2007? E nos anos que ficou na câmara de vereadores? E como Presidenta da Comissão de Constituição e Justiça? (Seja lá que diabos isso for.) Nem no site dela tem essas informações.

(Tem um site com vídeos dos candidatos.)

Mas não adianta. Já passou o deslumbramento com a Esqueçocracia: a guerra fria e a ditadura ficaram para os livros (pelo menos aqui no Brasil). Para a alegria de poucos e a desgraça dos outros poucos restante (a maioria não se importa), a política está caminhando em busca da anarquia: orçamento participativo, planejamento participativo, democracia representativa. E não esqueçendo da Internet, o mais anárquico meio de comunicação e debate.

(o texto não fechou bonitinho, mas depois arrumo.)

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