sábado, 27 de março de 2010

Um poema do velho Buk

agora, se você tivesse que ensinar escrita
criativa, ele perguntou, o que você lhes diria?
(de Charles Bukowski)

eu lhes diria para terem um caso de amor
fracassado, hemorróidas, dentes podres
e beber vinho barato,
para evitarem a ópera e o golfe e o xadrez,
seguirem trocando a guarda de suas
camas de parede em parede
e depois eu lhes diria para terem
outro caso de amor fracassado
e nunca usar uma fita de seda na máquina
de escrever,
evitar os piquiniques em família
ou serem fotografados em um jardim coberto de
rosas;
para lerem Hemingway apenas uma vez,
pularem Faulkner
ignorarem Gogol
olharem fixo para as fotos de Gertrude Stein
e ler Sherwood Anderson na cama
comendo biscoitos Ritz água e sal,
perceberem que as pessoas que não param
de falar sobre liberação sexual
na verdade estão mais assustadas do que vocês.
para ouvirem E. Powel Biggs debulhar o
órgão no rádio enquanto estão
fumando um Bull Durham no escuro
numa cidade estranha
restando apenas um dia pago de aluguel
após terem desistido de tudo
amigos, parentes e empregos.
jamais se considerem superiores e/
ou dentro da média
nem nunca tentem sê-lo.
tenham um outro caso de amor fracassado.
observem uma mosca sobre uma cortina de verão.
jamais tentem ter sucesso.
não jogem sinuca.
deixem que uma fúria legítima tome conta de vocês
quando seus carros estiverem com um pneu no chão.
tomem vitaminas mas não levantem pesos nem corram.

então depois disso tudo
revertam o processo.
tenham um bom caso de amor.
e a coisa
que vocês talvez aprendam
é que ninguém sabe nada -
nem o Estado, nem os ratos
nem a mangueira no jardim nem a Estrela Polar.
e se por acaso vocês me pegarem
ensinando numa classe de escrita criativa
e me lerem este poema
eu lhes darei um A com louvor
bem no olho
do cu.

quinta-feira, 11 de março de 2010

terça-feira, 2 de março de 2010

A beleza sentou-se em meus joelhos...

(Salvador Dalí, Libelo contra a arte moderna, 1956)

"A introdução da feiúra na arte moderna começou com a adolescente ingenuidade romântica de Arthur Rimbaud, quando disse: "A beleza sentou-se em meus joelhos e estou fatigado dela". Foi por essas palavras cifradas que os críticos ditirâmbicos - exageradamente negativistas, e odiando o classicismo como todo rato de esgoto que se respeita - descobriram as agitações biológicas da feiúra e seus inconfessáveis atrativos. Começaram por se maravilhar com uma nova beleza, que diziam "não-convencional", e ao lado da qual a beleza clássica tornava-se de repente sinônimo de frivolidade.

Todos os equívocos eram possíveis (...)"